segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Breve meditação sobre Fé e razão

Tomás de Aquino (1224-1274), grande mestre da Escolástica,
sistema teológico-filosófico caracterizado pela concordância
do conhecimento natural com o revelado
Uma coisa que todos deveriam saber sobre a Fé é que ela não pode ser apreendida unicamente por meio da razão, do intelecto ou da inteligência meramente humana. A Fé não pode ser compreendida, dominada, estudada, dissecada como um espécime biológico em laboratório.
O buscador da Verdade precisa antes aceitar a Fé, sujeitar-se a ela, render-se, tornar-se nada diante dela. Precisa aderir à Fé, fazer dela como o respirar, que é tão natural desde o nosso nascimento para o mundo, que dele só nos lembramos se nos falta. A Fé é para ser acolhida, eleita, como guia e, - ela sim, - mestra. Deve ser nossa identidade.
A Fé não é para os grandes, para os letrados, para os doutos ou para os mestres, mas para os pequenos, os simples, os humildes. A Fé é para os que têm espírito de pobre. O pobre não tem orgulho; como nada tem, e não tem meios de obter o que precisa, ele pede: não pode ter orgulho, é despojado e aberto. O pobre é pedinte, é estrangeiro em sua própria terra, é o menor entre todos. Trabalhando, é o servidor de todos.
Quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus declara-lhe que esta Revelação não lhe veio "da carne nem do sangue, mas do seu Pai que está nos Céus" (Mt 16, 17). A Fé é um Dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. O Auxílio do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá a todos a suavidade em aceitar e crer a Verdade (CIC §153). Nenhum ser humano irá conquistar a Fé por seus próprios méritos, pois ela é Dom de Deus. E o fato de a Fé, tão fundamental para a vida e para a salvação, ser Dom de Deus, mostra-nos que ela é, antes de tudo, Mistério.

A Fé é um Mistério indecifrável. E quanto mais tentamos decifrá-lo, mais nos distanciamos da sua solução. Quando tentamos capturá-lo, esvai-se qual fumaça por entre nossos dedos.

A Fé não é passível de ser alcançada mediante o estudo; ao contrário, se estivermos fundamentados apenas na razão, ela se esvai conforme aumentam os nossos conhecimentos. - Não porque a Fé contrarie a razão, ao contrário: mas porque na muita sabedoria há muito enfado, e enfadar-se é insuportável para os homens.
O único meio de alcançar a Fé é a humilde aceitação; o humilde e silencioso render-se. A Fé não pode ser mais do que a simplicidade que as mães ensinam às crianças aos pés da cama. E isto se recupera quando desistimos (de entender) e nos rendemos.
Sendo assim, o que podemos estudar são os meios, as formas, a história, os nomes e etc., mas não a essência. A Fé se aperfeiçoa, sim, mas através de meios inefáveis, e não através dos nossos esforços, por nossos próprios méritos. Quanto mais reverenciarmos o Mistério, prostrados, mais próximos dele estaremos. Quanto menos tentarmos decifrá-lo, mais seremos capazes de compreendê-lo em espírito e em Verdade.
A partir da compreensão deste grande princípio da Fé, a Jornada do cristão será muitíssimo mais frutuosa e suave; e andará mais rápido, vencendo distâncias muito maiores em menos tempo.
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